PAÍS, NAÇÃO, PÁTRIA, ESTADO
- PEQUENAS NOÇÕES.
Decidimos escrever sobre este tema, não no sentido de ensinar, mas, principalmente, no sentido de recordar antigos estudos, levando em conta as manifestações de honrados irmãos que questionam o porquê das escolas atuais não abordarem mais esses assuntos, para muitos, considerados altamente positivos para elevar a autoestima e incentivar o amor das crianças e do adolescentes pelas coisas boas de nossa Terra. Já tivemos, sim, esses estudos inseridos nos currículos escolares, mas, infelizmente, com objetivos de doutrinação. Nós somos a favor da inclusão, também, mas dentro de uma nova metodologia, expondo não somente a figuras de heróis e símbolos nacionais, estimulando o orgulho pelas guerras e pelas obras materiais, mas, principalmente, a defesa dos direitos e deveres, o respeito pelas tradições, pela moral e pela ética, sem proselitismos e nem sectarismos, o respeito à cidadania, incluindo a tolerância à diversidade e combatendo os preconceitos. Realmente, não precisamos de uma disciplina específica.
Vejamos :
Consideramos, hoje, que o país é um território ou uma superfície :delimitado geograficamente e habitado por um povo, a exemplo do Brasil, com 8.511.865 km2. Já a Nação é um grupo social que congrega pessoas com afinidades étnicas e culturais, como uma “grande família”, a exemplo da nação brasileira, com 210.000.000 de almas; a Pátria, como a reunião de sentimentos ou valores em torno das noções de pais e nação, simbolizados por uma bandeira e um hino, por exemplo. E, finalmente, o Estado como uma Nação politicamente organizada.
Especificamente, o Nacionalismo e o Patriotismo devem ser, sim, ensinados às futuras gerações, porém cultivados com comedimentos, sem sectarismos, pois tais sentimentos podem descambar para a doutrinação ou fanatismo que podem se transformar em intolerância em relação a outras nações, que devem cultivar, também, os mesmos sentimentos. Daí o perigo de confronto, que podem levar a conflitos devastadores. Nacionalismo e patriotismo, cultivados com sensatez, são sentimentos nobres, indispensáveis para a preservação do país e a organização consciente do estado.
Há, portanto, a necessidade de ensinar e cultivar o nacionalismo e o patriotismo, entre as crianças e adolescentes nas escolas e nas famílias, sim, mas sem exageros, evitando doutrinação, fanatismo, sectarismo, xenofobia, ódio, enfim.
O nacionalismo foi intensamente cultivado na Europa na passagem do século XIX para o XX, quando as fronteiras de vários países daquele continente não tinham sido definitivamente, delimitadas ou mesmo em decorrência da corrida colonialista ou imperialista deflagrada com a segunda Revolução industrial Era muito forte, por exemplo, entre ingleses, franceses, russos (Pan-eslavismo), alemães (Pan-Germanismo) e sérvios (Grande Sérvia) que possuíam organizações nacionalistas extremistas, organizações estas que seriam responsáveis pela hecatombe da Primeira Guerra Mundial.
No Brasil o nacionalismo foi pujante nas décadas de 1930 e 40, no período Varguista, fortemente influenciado pelo fascismo italiano e pela Ação Integralista Brasileira (A.I.B.), facilmente identificado, inclusive, em músicas de Ari Barroso e nos discursos do próprio Getúlio.
A Ação Nacional Libertadora (A.N.L.). que congregava liberais, democratas e comunistas (nada moderados), também , se identificava por um forte sentimento nacionalista. Vargas era nacionalista, mas não “engolia” nem os” integralistas” e nem “aliancistas”, neste último pela fortíssima rejeição que tinha pelo comunismo..
Na primeira oportunidade que teve, Vargas extinguiu a A.N.L. e a A.I.B. e implantou um regime de exceção (Estado Novo), com características fascistas, sem, contudo, ter declarado, oficialmente, ser ou não fascista, embora as evidências não deixassem nenhuma dúvida.
A deposição de Vargas, em 1945 (ao término da Segunda Guerra), e o consequente advento do populismo, arrefeceu-se no Brasil o nacionalismo varguista, que foi retomado em 1950 com a eleição, por meios democráticos, do velho caudilho. Com seu suicídio em 1954, retornou o populismo, arrefecendo, mais uma vez, o nacionalismo.
Em 1964, os militares derrubaram João Goulart e implantaram um novo regime de exceção que perdurou 21 anos, período este marcado intensamente pelo nacionalismo, pela intensificação de disciplinas como Educação Moral e Cívica e O.S.P.B. nas séries do fundamental e médio, e Estudo de Problemas Brasileiros, no ensino superior. Tanto quanto por frases de efeito, como “Ninguém segura este país; e “Brasil: ame-o ou deixe-o”.
Em 1988, com a promulgação da atual Constituição, o nacionalismo exacerbado arrefeceu mais uma vez, especialmente com a adesão do Brasil à globalização, mas não foi extirpado, como muita gente diz.
Nós, particularmente, temos um conceito mais ampliado de nacionalismo e patriotismo. Acreditamos no amor aos símbolos, como hino e bandeira, o respeito aos antepassados, a lembrança das datas, mas achamos que o nacionalismo e o patriotismo são muito mais do que isso: respeito, amparo e proteção aos idosos, às crianças, às mulheres, enfim, aos nossos semelhantes; assim como a preservação do meio ambiente, o investimento na educação, na saúde, na segurança e, finalmente, na defesa da democracia.
- NA MAÇONARIA.
Os maçons são nacionalistas e patriotas, que, aliás, são algumas das qualidades indispensáveis aos seguidores da Arte Real, até porque a Ordem exige de todos os seus filhos a prática constantes de tais sentimentos. Por outro lado, não existe na história ocidental qualquer outra organização que tenha contribuído com tanta intensidade para a consecução de inexoráveis conquistas entre as modernas nações do nosso mundo contemporâneo.
Entretanto, a Maçonaria precisa lançar um olhar muito cuidadoso sobre as discussões travadas no contexto das grandes e abruptas transformações que a mídia nos impõe, especialmente, devido a explosão dos meios de comunicação, quando a decantada liberdade de expressão foi concedida a todos, como disse Humberto Ecco, “inclusive aos imbecis”, de forma.. desmedida
Esse espírito nacionalista e patriótico dos maçons,, assim como de todos os homens, devem ser revistos, levando em conta a evolução da jurisprudência nos principais países, no que se refere aos direitos e deveres dos cidadãos em todas as organizações, mormente nas sociedades democráticas.
Os resquícios do autoritarismo encontram-se em todos os setores da vida humana, com destaque para a história e a literatura, inclusive infantis, onde os autores teimam em reproduzir os fatos, sejam eles de qualquer natureza, sem qualquer preocupação de desmistificação, repetindo e glorificando os representantes das camadas dominantes, em detrimento dos membros das camadas subalternas, sendo aqueles tratados com exaltação e, estes, com nítido desprezo.
Isso ainda é muito sentido quando nos referimos aos conceitos de nacionalismo e patriotismo, por exemplo, nos se referimos às figuras dos “Heróis nacionais”, tratando-os como seres humanos superiores que se sacrificaram, ou até se martirizaram, no passado, pelo futuro das gerações, sendo, por conseguinte, tratados como “nossos heróis”, o que já levou governos autoritários a promover a prisão de pessoas que não deram a eles o status superior que a história positivista lhes havia concedido.
Heróis existiram na mitologia, sendo eles também chamados de semideuses, especialmente, quando tratamos da civilização grega, no seio da qual existiram esses seres semidivinos, oriundo da concepção de filhos entre os deuses do Olimpo e as mulheres comuns, a exemplo de Hércules, filho de Zeus com Acmena. Esses semideuses ou heróis eram seres superiores aos homens e mulheres comuns, providos dos mesmos valores positivos e negativos dos seres humanos, inclusive mortais, que se envolviam em histórias extraordinárias que a própria razão humana seria incapaz de decifrar.
Ao longo dos séculos, guardadas as devidas proporções, os historiadores e literatas aplicaram essa metodologia para descrever a permanente luta de grupos em torno do poder, onde fica patente a glorificação dos dominantes e a satanização dos dominados, como, por exemplo na história do imperialismo, através dos tempos, incluindo, obviamente, a história dos portugueses na “colonização do Brasil. Sim, nossos primeiros “heróis” foram os conquistadores portugueses, enquanto nossos indígenas foram tratados somente como selvagens. Os pouquíssimos “heróis indígenas” foram aqueles que ajudaram os portugueses a preservar o domínio das terras brasileiras diante de franceses, holandeses e ingleses.
Por ocasião da nossa independência, Dom Pedro I, de nacionalidade portuguesa, herdeiro do trono lusitano, foi alçado a condição de nosso maior herói, inclusive com o título “Defensor Perpétuos” do Brasil, o que rapidamente foi desmistificados pelos verdadeiros “patriotas” brasileiros que se voltaram contra ele e o escorraçaram de nossas terras, ao constatarem que aquele personagem não passavam de um representante dos dominadores e exploradores portugueses que aqui havia deixado tal pessoa para garantir os direitos hereditários da família Bragança e, por que não dizer, do próprio Portugal sobre as terras do Brasil.
Esta nossa colocação aqui sobre Dom Pedro I não diminui a importância desse personagem na nossa história pátria, pois sem a presença dele no contexto a nossa separação de Portugal, talvez não fosse consumada naquele momento. Sem a coroação dele como Imperador do Brasil e sem a imposição de uma Constituição centralizadora, unitarista, autoritária, inclusive com o tal Poder Moderador, o Brasil poderia ter sido fragmentado em várias pequenas repúblicas, como aconteceu com o resto da América Latina…
Mas não se pode negar que o governo dele foi uma tragédia, pois pouco depois do episódio da Independência sua rejeição no seio da sociedade nacional passou a despencar, primeiramente pelo fato dele ser português, filho do rei de Portugal, e de ter constituído um governo com inúmeros elementos naturais da antiga metrópole, como também da soma sucessiva de fracassos políticos e administrativos, tais quais a dissolução da Constituinte, a outorga da Constituição autoritária de 1824, a violenta repressão aos seus adversários (destacando o episódio da Confederação do Equador, em Pernambuco), a preocupação acintosa com a sucessão do trono português, a derrota na guerra da Cisplatina, o péssimo comportamento conjugal, sendo, inclusive, acusado pela morte da Imperatriz, que tinha enorme apelo popular, o desabastecimento dos mercados, o aumento dos preços, a falência do Banco do Brasil e outros.
O dia 7 de abril de 1831, data da abdicação de Dom Pedro I, passou a ser considerada, durante o período Regencial, como a “verdadeira data da independência do Brasil”.
Podemos concluir, então, que os personagens da história merecem respeito, valorização, estudo, mas não devem ser idolatrados (os maçons não são idólatras), chamados de “heróis”, mesmo dentro do conceito de heroísmo que adotamos hoje, principalmente os políticos. Quantos deles não foram corruptos até alma” Sempre guardando as devidas exceções.
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