EPIDEMIA
BRASIL REGISTRA 210 VÍRUS TRANSMITIDOS POR INSETOS
NÚMERO DE VÍRUS CATALOGADOS DOBROU EM 30 ANOS,
APONTA O INSTITUTO EVANDRO CHAGAS
Publicado: 27 de
março de 2016 às 12:23
VIROLOGISTA PEDRO FERNANDO DA COSTA VASCONCELOS,
DIRETOR DO INSTITUTO EVANDRO CHAGAS. PUBLICIDADE
Após o vírus zika
surpreender o País e o mundo com sua rápida disseminação e possível associação
com a microcefalia, especialistas brasileiros alertam para os riscos de outras
doenças transmitidas por mosquitos, as chamadas arboviroses. Nas últimas três
décadas, dobrou o número de arbovírus catalogados no Brasil. Segundo registros
do Instituto Evandro Chagas, órgão referência em medicina tropical e vinculado
ao Ministério da Saúde, já circulam no território nacional 210 arbovírus, ante
95 na década de 1980. Pelo menos 37 são capazes de provocar doenças em humanos
e três deles chamam a atenção por já terem causado pequenos surtos em áreas
urbanas.
Uma delas é a febre do Mayaro, doença com sintomas parecidos
com os da chikungunya e transmitida por mosquitos do gênero Haemagogus, mesmo
vetor da febre amarela silvestre. A arbovirose já foi registrada em vários
Estados do Norte e Centro-Oeste. Os mais recentes dados epidemiológicos
disponíveis no site do Ministério da Saúde mostram que, entre dezembro de 2014
e junho de 2015, foram 197 notificações distribuídas por nove Estados
brasileiros. Não há registros de mortes provocadas pela doença, mas, assim como
na chikungunya, os infectados podem permanecer com dores articulares por
semanas ou meses.
Caracterizada por quadros febris altos e dores
intensas de cabeça, a febre do Oropouche é outra arbovirose que já causa surtos
localizados, sobretudo em Estados da região amazônica, até mesmo em bairros de
capitais como Manaus e Belém. Transmitida por um mosquito conhecido como
maruim, do gênero Culicoides, a doença já foi notificada nas últimas décadas em
todas as regiões brasileiras, com exceção do Sul, e também não costuma levar à
morte.
Há ainda a encefalite de Saint Louis, doença
transmitida principalmente por mosquitos silvestres do gênero Culex – o mesmo
do pernilongo comum –, que pode causar comprometimento neurológico e já foi
responsável por um surto em São José do Rio Preto, no interior paulista, em
2006.
De acordo com o virologista Pedro Fernando da
Costa Vasconcelos, diretor do Instituto Evandro Chagas e pesquisador
participante do grupo que catalogou boa parte dos arbovírus no País, embora
essas três doenças sejam transmitidas principalmente por insetos silvestres de
diferentes gêneros (mais informações nesta página), há experimentos científicos
que já indicam que mosquitos Aedes também teriam capacidade de transmiti-las.
“No caso da febre do Oropouche, por exemplo, o
Aedes nunca foi encontrado infectado na natureza, mas um estudo experimental em
laboratório mostrou que ele pode ser vetor dessa doença e que seria um bom
transmissor”, afirma o especialista.
Riscos.
Segundo Vasconcelos, o fato de os três vírus estarem presentes no Brasil há
mais de 60 anos – eles foram isolados entre as décadas de 1950 e 1960 – sem
terem causado epidemias de alcance nacional não permite dizer que nunca farão
estragos. “Eu não quero ser pessimista, mas o zika passou 60 anos no mundo sem
causar nenhum problema e vimos o que aconteceu (foi descoberto em 1947 na
África). Não dá para dizer que esses três vírus não provocarão nenhum problema
por já estarem no Brasil. Pode ser que nunca causem, mas é bom não duvidar”,
diz o diretor do Instituto Evandro Chagas, que cobra mais pesquisas na área.
“Dos 210 arbovírus catalogados no Brasil, há
esses 37 que já comprovamos que causam doença em humanos, mas, do restante, a
maioria a gente desconhece completamente”, diz.
Para o especialista, a diversidade de vírus
transmitidos por mosquitos reforça a importância de combate aos criadouros. “O
desenvolvimento de vacinas deve ser feito, mas acredito que o controle vetorial
é mais importante hoje”, defende. (AE)
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